Cerca de uma centena de antigos alunos do Instituto de Surdos de Bencanta, que funcionou durante mais de 40 anos, reuniu-se no passado domingo, numa visita carregada de emoções e saudade, onde regressaram às antigas instalações e recordaram os momentos vividos.
Foi para recordar os anos passados de escola e de convívio que cerca de uma centena de ex-alunos se juntou, no último domingo, no Campus do Conhecimento e da Cidadania da Fundação Bissaya Barreto, em Bencanta, num alegre e comovente convívio. Houve oportunidade para contar histórias, trocar fotografias antigas, rever colegas que há muito não se viam, e também visitar as antigas instalações e descobrir as mudanças que ocorreram ao longo do tempo.
Um encontro “de gerações, de memórias e afectos”, segundo a Presidente da Fundação Bissaya Barreto, Patrícia Viegas Nascimento, que salienta a importância das memórias e testemunhos dos antigos alunos para “continuar a escrever a história da obra da Fundação e do Instituto de Surdos de Bencanta”.
Os participantes vieram de todo o País, sendo a maioria da região centro. Para alguns foi a primeira vez que regressaram a este espaço, para outros nem tanto, mas a vontade de estar com os antigos colegas e de recordar os momentos vividos foi comum a todos.
Sandra Faria é filha de dois ex-alunos do Instituto. Em virtude desta circunstância especial, é bilingue desde muito cedo e enveredou pela profissão de intérprete gestual. Enquanto organizadora do encontro, conta que muitos ex-alunos tinham um grande desejo em voltar a Bencanta e visitar o espaço. “É muito bom para eles, gostam do convívio entre si. Virem cá, encontrarem os professores e os colegas, é muito recompensador.”
Goreti Faria, mãe de Sandra, foi aluna durante nove anos, entre 1972 e 1981. Atualmente vive em Maceira, Leiria, e aderiu com entusiasmo à iniciativa: “Sinto uma emoção muito grande, são muitas as mudanças; voltar aqui dá-me vontade de chorar, estamos todos muito felizes”. Luís Henrique, por sua vez, foi aluno durante cerca de cinco anos, entre 1978 e 1984. A viver em Lisboa, foi um dos organizadores do encontro. “Está a ser muito bom organizar esta reunião e trazer todos novamente a este espaço, muitos se calhar é a primeira vez que vêm cá. Avivar as memórias da escola e recordar esses momentos que vivemos, estamos todos arrepiados. Saímos daqui com um sorriso”, afirma. Já Pedro Costa, presidente da Federação Portuguesa das Associações de Surdos, veio ao encontro enquanto representante associativo, mas também porque é casado com uma ex-aluna do Instituto, com o objectivo de conhecer as outras gerações de surdos e as suas experiências naquele estabelecimento de ensino.
Mas não só de alunos se fez este encontro, pois também estiveram presentes ex-professores e ex-funcionários. Costa e Silva leccionou Educação Tecnológica durante quase 40 anos no Instituto, com interrupção para o serviço militar na Guerra do Ultramar. “Foi uma vida muito cheia”, reconhece, satisfeito, enquanto recorda como chamava a atenção dos alunos que estavam distraídos ou a escultura que fizeram e que ganhou um prémio internacional em Bruxelas. Outro dos professores presentes, Antero Maia, foi também diretor do estabelecimento. “Entrei em 1973 e estive até final de 2002. Fui aqui professor do Ensino Primário, agora 1.º Ciclo, e fiz a formação para leccionar no ensino especial durante dois anos em Lisboa e Porto”, conta, explicando que o que o trouxe a este convívio “foi a solidariedade acima de tudo, entre todos, os bons tempos que passei, a possibilidade que se deu de trabalhar com esta comunidade”.
O Instituto de Surdos de Bencanta nasce em Outubro de 1964 da necessidade de proporcionar uma resposta às crianças com deficiência auditiva na região Centro, uma vez que só existiam estabelecimentos especializados em Lisboa e Porto. O professor Bissaya Barreto abriu o estabelecimento, na altura com atendimento em regime de internato a 54 alunos, provenientes de todo o País, com o objectivo de fazer o diagnóstico e profilaxia da surdez, bem como a recuperação pedagógica e social do grupo de crianças portadoras desta deficiência. O Instituto teve uma dimensão social e educativa muito importante para várias gerações e chegou a ter mais de 200 surdos, tendo encerrado as suas portas em 2005.
Esta foi uma jornada que deixou todos os participantes com o coração cheio e com vontade de regressar para outros encontros a combinar no futuro.