O Serviço SOS Pessoa Idosa da Fundação Bissaya Barreto faz dois anos amanhã, dia 21 de maio. Tempo curto para os muitos pedidos de ajuda recebidos que refletem sobretudo violência psicológica e financeira, mas que não mostram a total dimensão do problema, porque ainda há receio em denunciar. Mudar mentalidades e comportamentos face ao envelhecimento e à proteção dos direitos dos idosos é a principal preocupação dos responsáveis.
Dois anos depois de ter sido ativada, a Linha SOS Pessoa Idosa da Fundação Bissaya Barreto recebeu 300 pedidos de ajuda, na maioria dos casos denunciando violência psicológica e financeira. A maioria das vítimas são mulheres com média de idade de 78 anos. Os agressores são muitas vezes os próprios descendentes, homens com média de idade de 57 anos, que são denunciados pelas próprias vítimas ou por outros familiares e vizinhos. Os pedidos de ajuda chegam maioritariamente dos distritos de Lisboa, Coimbra, Porto e Setúbal.
O SOS Pessoa Idosa é um serviço de intervenção social, criado em 2014 pela Fundação Bissaya Barreto, que integra uma linha gratuita de atendimento telefónico (800 990 100), um serviço de atendimento direto e personalizado e um gabinete de mediação familiar, garantindo toda a confidencialidade no apoio e acompanhamento prestados aos idosos, às famílias, aos profissionais das áreas da saúde e de apoio social e a outras pessoas envolvidas.
O Serviço tem desenvolvido uma ação importante junto dos serviços de proximidade da vítima idosa, sinalizando e pedindo a intervenção célere dos serviços identificados considerados pertinentes, articulando e agilizando a comunicação entre diferentes sectores, tais como centros de saúde, serviços de segurança social, IPSS, comarcas. Este trabalho de ativação e monitorização multissectorial é considerado um caminho importante a desenvolver.
Segundo Fátima Mota, assessora da Área Social da Fundação Bissaya Barreto, o número de apelos não reflete a verdadeira dimensão do problema, porque existe ainda um grande muro de silêncio ao redor dos maus tratos aos idosos e continua a ser muito difícil para uma vítima denunciar um agressor que é, muitas vezes, um familiar. “Os estereótipos sobre o declínio físico e cognitivo na idade avançada, tomando por usual o patológico, a infantilização frequente da pessoa idosa, retirando-lhe a palavra e a sua autodeterminação; a feminização do envelhecimento que duplamente discrimina a pessoa, a desatualização do código civil de 1966, são factores que contribuem para a desproteção da pessoa idosa”, denuncia Fátima Mota.
Num quadro de colaboração com as entidades judiciárias, o Serviço SOS Pessoa Idosa formalizou em setembro de 2015 um protocolo de cooperação com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra, que visa a promoção da proteção judiciária a pessoas idosas que dela necessitem. Neste contexto, o Serviço comunica os casos de idosos que careçam de proteção jurídica e que residam nas comarcas abrangidas por Coimbra, Castelo Branco, Guarda, Leiria e Viseu. Por sua vez, a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra, encaminha para a Fundação Bissaya Barreto situações de pessoas idosas que necessitem de apoio social ou de mediação familiar.
Na linha de outras campanhas e estratégias de sensibilização para estas problemáticas, promovidas pelo Serviço SOS Pessoa Idosa, a Fundação Bissaya Barreto em parceria com a Procuradoria-Geral Distrital de Coimbra vai realizar o I Congresso Internacional sobre Envelhecimento, nos dias 16 e 17 de junho, no Campus do Conhecimento e da Cidadania (Bencanta, Coimbra). A iniciativa pretende debater o impacto, na sociedade, do envelhecimento demográfico e o potencial valor do idoso, em todas as dimensões, cultural, económica e social. O programa está disponível em https://www.fbb.pt/blog/i-congresso-internacional-sobre-o-envelhecimento-16-e-17-junho/.