A Filosofia Educativa da Casa da Criança inspira-se nos valores humanistas prosseguidos pelo professor Bissaya Barreto, nomeadamente nos consagrados na Convenção dos Direitos da Criança e por ele defendidos e divulgados e expressos no lema “Façamos felizes as crianças da nossa terra”.

A Casa da Criança reconhece que a aprendizagem só é possível num ambiente onde o bem-estar físico e psíquico da criança se encontrem devidamente assegurados e, por essa razão, procura criar um ambiente saudável e aprazível, onde a criança goste de estar e onde possa estabelecer relações positivas com os seus pares e com os adultos. Com efeito, o bem-estar emocional constitui um indicador fundamental de qualidade em educação. “Quando o ambiente educativo é emocionalmente acolhedor, as crianças sentem-se felizes e receptivas aos estímulos que as rodeiam. Estabelecem relações positivas, são confiantes, aceitam os desafios, têm uma boa auto-estima e lidam bem com as suas experiências e sentimentos, positivos ou negativos” (Laevers et al, 1997, p. 90).

É neste contexto que a Casa da Criança elege o brincar ou atividade natural da criança – e muito especialmente o brincar na rua, em contacto com a Natureza – como meio privilegiado, porque holístico, de aprendizagem, a qualidade do clima relacional em que o cuidar e o educar estão intimamente interrelacionados  e a organização do ambiente educativo como fatores de inclusão, participação e envolvimento e suporte da organização curricular.

A Casa da Criança reconhece-se nos princípios e fundamentos considerados comuns a toda a pedagogia da infância – dos 0 aos 6 anos conforme estabelecido nas Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (2016, 9-13), a saber:

1. O desenvolvimento e a aprendizagem como vertentes indissociáveis no processo de evolução da criança – Cada criança tem uma identidade única e singular, tendo necessidades, interesses e capacidades próprias. Vive num meio cultural e familiar que deve ser reconhecido e valorizado. Por isso o educador tem em conta as características da criança, criando oportunidades que lhe permitam realizar todas as suas potencialidades. Considera a família e sua cultura na sua ação educativa.

2. Reconhecimento da criança como sujeito e agente do processo educativo –  A criança é detentora de uma curiosidade natural para compreender e dar sentido ao mundo que a rodeia, sendo competente nas relações e interações que estabelece. Tem direito a ser escutada e as suas opiniões devem ser tidas em conta. Por isso o educador parte das experiências da criança e valoriza os seus saberes como fundamento de novas aprendizagens. Escuta e considera as opiniões da criança, garantindo a sua participação nas decisões relativas ao seu processo educativo. Estimula as iniciativas da criança, apoiando o seu desenvolvimento e aprendizagem.

3. A exigência de resposta a todas as crianças – Todas as crianças têm direito a uma educação de qualidade em que as suas necessidades, interesses e capacidades são atendidos e valorizados. Todas as crianças participam na vida do grupo. A educadora aceita e valoriza cada criança, reconhecendo os seus progressos. Tira partido da diversidade para enriquecer as experiências e oportunidades de aprendizagem de todas as crianças. Adota práticas pedagógicas diferenciadas, que respondam às características individuais de cada criança e atendam às suas diferenças. Promove o desenvolvimento de um sentido de segurança e autoestima em todas as crianças.

4. A construção articulada do saber –  O desenvolvimento e a aprendizagem processam-se de forma holística. Brincar é um meio privilegiado de aprendizagem que leva ao desenvolvimento de competências transversais a todas as áreas do desenvolvimento e aprendizagem. Por isso a educadora estimula o brincar, através de materiais diversificados, apoiando as escolhas, explorações e descobertas da criança. Aborda as diferentes áreas de forma globalizante e integrada. Estimula a curiosidade da criança criando condições para que “aprenda a aprender”.