Em todas as Casas da Criança que construiu, considerou indispensável criar um ambiente apropriado, pois reconhecia, a influência do ambiente no desenvolvimento da criança.

Estes estabelecimentos de educação são alegres, cheios de luz, cor e fantasia. Sempre rodeados de um enorme espaço ajardinado e muitas vezes com uma horta e uma quinta com animais. No interior, todo o mobiliário se adaptava às crianças, incluindo os sanitários. As mesas e os bancos dos refeitórios eram revestidos de mosaicos temáticos…a mesa dos insetos, crustáceos e moluscos, dos animais da selva, dos peixes, e de todas as flores… Às críticas de quem considerava tudo isso um luxo, Bissaya Barreto respondia que «…representa apenas higiene, facilidade de conservação, bom gosto, que há-de gravar-se no subconsciente destas crianças» (Barreto, 1970,165) 1.

Afirmou várias vezes, publicamente, que «As Casas da Criança pretendem ser também uma reacção contra certos métodos de orientações pedagógicas…» (idem, 152), «A pedagogia das nossas Casas da Criança, é, na verdade, um grito contra a pedagogia tradicionalista, pedagogia livresca, pedagogia da memória, que vive do livro e pelo livro como se, no dizer de Montaigne, não valesse mais um espírito bem formado do que uma cabeça bem cheia!» (ibidem, 170).

«Interessa-nos mais formar o espírito da criança do que mobilá-lo; e por isso, a tarefa fundamental das nossas Casas da Criança está em desenvolver na criança o espírito de iniciativa, o espírito de confiança em si, a noção da responsabilidade e da solidariedade.» (ib, 170).

Estando admiravelmente bem informado sobre as correntes pedagógicas mais modernas, soube colher as bases em que ainda hoje assentam as atuais filosofias da educação. Foram sobretudo Maria Montessori, Fröebel e Pestalozzi que inspiraram os princípios orientadores da ação educativa nas suas Casas da Criança.

Reconhecendo a importância dos primeiros anos de vida e da qualidade dos cuidados prestados à criança, definiu o lema que iria orientar estes estabelecimentos de educação: «Façamos felizes as crianças da nossa terra» (ib, 162).

«E com particular interesse se cultiva a necessidade que a criança tem de brincar, de jogar, pois, na autorizada opinião de Fröebel, é pelo jogo que a criança se desenvolve e se manifesta inteiramente…» (ib, 151), «Certos jogos criam o espírito de equipa.» (ib, 163) e «…diremos até serem o mais valioso instrumento da sua formação…»” (ib, 172).

«Ali as crianças aprendem brincando e brincam aprendendo…O ensino parte do real, da coisa, do concreto e não do abstracto…» (ib, 152). «Aproveitando o espírito de curiosidade e de imitação da criança, aproveitamos a sua intuição, e à custa de jogos, brincadeiras, de riscos e rabiscos, de construções, etc., vamos cultivando as suas qualidades, a sua sensibilidade e a sua inteligência.» (ib, 182), «…não terá que decorar, não terá de estar em silêncio, não terá preocupações, antes pelo contrário, rirá, falará, saltará…» (ib,183).

Bissaya Barreto tinha a exata noção de que, o papel do educador na nova escola exigia uma formação pedagógica e científica muito diferente da do educador tradicional: «Interessar as crianças, estimulá-las, levá-las a reflectir, animá-las sempre e nunca as humilhar, mesmo quando erram, procurar dar às crianças uma educação tão completa e equilibrada quanto possível e fazer da escola o lugar mais atraente, mais alegre e mais encantador.» (ib, 184).

«Cada criança representa um caso e um caso que está em plena evolução.» (ib, 189). Por isso, «A atitude a tomar e o método a adoptar vão variando de criança para criança e, para cada criança vão mudando através do tempo.» (ib, 189).

É reconhecido o papel dos pais na educação das crianças: «A Casa da Criança não substitui os Pais – a acção dos Pais não é substituível – mas colabora com os Pais, auxilia-os, completa-os.» (ib, 188), assim como a necessidade de os esclarecer quanto às características das crianças pequenas.

Um profundo respeito pela criança, um enorme empenho no seu bem estar físico e psicológico, uma pedagogia ativa em que a criança podia explorar livremente os materiais e uma disciplina não autoritária mas com determinados limites, um adulto atento que apoia os impulsos criadores da criança, um ambiente saudável e atraente que colmata as carências sociais e económicas das crianças são aspetos fundamentais que marcaram o pensamento e a ação de Bissaya Barreto.

1: In Bissaya Barreto “Uma Obra Social realizada em Coimbra”. 1970.