A criança, aqui, vai viver em contacto com a natureza e com a vida. Todos os dias serão diferentes, em todos os dias poderá ter os chamados instintos da criança: mexer os membros, tocar, apalpar, construir, demolir, observar, questionar, viver em sociedade, sem cansaço nem fadiga. Interessa-nos mais formar o espírito da criança do que mobilá-lo; e por isso, a tarefa fundamental das nossas Casas da Criança está em desenvolver na criança o espírito de iniciativa, o espírito de confiança em si, a noção da responsabilidade e da solidariedade.

Bissaya Barreto

Conhecedor profundo das condições de vida das pessoas e males que assolavam a população, designadamente, tuberculose, sífilis, loucura, lepra e cancro, iniciaria o seu percurso na medicina social organizando a “Luta contra a Tuberculose no Distrito de Coimbra”, tendo sido dos primeiros a aplicar a BCG. Neste contexto surgiu a “OBRA DE PROTECÇÃO À GRÁVIDA E DEFESA DA CRIANÇA” cuja finalidade consistia fundamentalmente na proteção sanitária e social das mulheres grávidas, das mães e dos filhos na 1.ª e 2.ª infância. Tratava-se de implementar um programa alargado que controlasse a tuberculose e todos os males provocados por condições de vida miseráveis.

Nasceram assim, 11 hospitais, um bairro económico no Loreto, 6 dispensários, 3 colónias de férias, um instituto de surdos e um instituto de cegos, 6 casas de educação e trabalho, uma maternidade, o “Ninho dos Pequenitos” e a “Escola Normal Social”, um programa de colocação familiar – a obra de Grancher e as “Casas da Criança”.

Nasceria também, um enorme interesse pela criança, pela dignificação e valorização das suas condições de vida e desenvolvimento.

Entre 1936 e 1970 Bissaya Barreto criou uma rede de 26 estabelecimentos de educação de infância espalhados por toda a região centro denominados “Casas da Criança”. Eram constituídas por creche, jardim de infância e consultório médico e nelas eram prestados, gratuitamente, todos os cuidados básicos, desde os educativos, à alimentação e à vigilância médica.