㊲ Chancko Karann
O descanso é um encontro de formas
2024
Cabide, almofadas, ferro zincado, papel de cobre e vidro

O descanso é um encontro de formas segue uma procura por entender as instâncias de presença dos objetos. No repouso do metal sobre um cabideiro ou no vidro que descansa em cima de travesseiros, o que se tem é um encontro de formas, que são por si a maneira de comunicação e existência de tais coisas. Tem-se aqui o despudor da esfera não verbal onde podemos ver os objetos descansando uns nos outros por meio de comparações e analogias, muito embora eles estejam primeiramente existindo e dando o peso de seus corpos, numa simplicidade que parece decompor a vida a uma condição primordial: o contato.
Chancko Karann, nascido em 1989, em Salvador no estado da Bahia, é Doutorando em Artes Visuais no PPGAV da Universidade Federal da Bahia, Mestre em Artes Visuais pelo PPGAV/UFBA desde 2020, e Bacharel em Artes pelo Instituto de Humanidades Artes e Ciências Milton Santos da Universidade Federal da Bahia desde 2016. Apresenta nos seus trabalhos a exploração dos caminhos do movimento na composição abstrata, sobretudo no campo da gravura, pintura e escultura, na construção de um discurso relacionado com os componentes gestuais e os seus desdobramentos na construção do fazer artístico.

Redes Sociais: https://www.instagram.com/chanckokarann/

㊳ Emanuela Boccia
A Criação de Eva
2024
Poltrona, costela de Adão, barro e veludo

A Criação de Eva é uma obra que convida o espetador a refletir sobre o silêncio e a dinâmica do doméstico na sociedade contemporânea. Uma sala de estar é envolvida por um azul celestial do veludo, criando uma atmosfera de contemplação. No centro da composição, uma costela de Adão emerge de um vaso de barro sobre uma poltrona, mas encontra-se sufocada pelo tecido nobre que a encobre. Esse simbolismo dialoga diretamente com a obra de Michelangelo Buonarroti de mesmo título, onde Eva surge da costela de Adão no jardim do Éden e encontra-se em frente a Deus em gesto de gratidão e submissão. No entanto, nesta reinterpretação contemporânea, Eva é reimaginada através de símbolos que evocam a ideia de submissão e gratidão que nos foi passada desde a origem do pecado original até os dias atuais. A obra convida o espectador a contemplar o silêncio e refletir sobre as complexidades do espaço doméstico.
Emanuela Boccia, nascida em Salvador, Bahia, em 1993, é artista visual e pesquisadora cujo trabalho gira em torno da pintura e têxteis, explorando a experimentação com diversos materiais, desde lãs a objetos domésticos. Através dessa abordagem, ela constrói uma narrativa afetiva onde o seu trabalho examina a individualidade, a construção da memória coletiva e o compartilhamento de sensações comuns. Emanuela é graduada e mestra em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia, atualmente cursa o doutoramento em arte contemporânea no Real Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, onde reside e trabalha desde 2022. “Entre a Agulha e a Espada”, de 2023, um de seus trabalhos recentes, integra o acervo do centro cultural Caixa Cultural Salvador.

Redes Sociais: https://www.instagram.com/manubab0/

Pedro Vaz
Szopki Krakowskie dos Pequenitos
2024
Estrado de cama, revistas, cola branca, cartaz do Portugal dos Pequenitos

A tradição dos presépios da Cracóvia (cuja origem remonta ao século XIX) foi iniciada por pedreiros que os construíam para vender no mercado em dias de mau tempo, tentando deste modo compensar pelos dias de interrupção de uma obra na qual trabalhavam. Ou seja, o trabalho artístico aqui tornava-se num ofício de sobrevivência. Em relação a este tipo de presépio, é tradição construí-lo com vários níveis, tendo como costume reservar o segundo piso para a representação do nascimento de Jesus em Belém. Szopki Krakowskie dos Pequenitos é um exercício sobre tudo isso, no qual não é Jesus que nasce, mas uma outra coisa, uma nova espécie de alicerce espiritual levado a cabo pela vontade de rasgar e atrofiar as lógicas anacrónicas, os fósseis da cultura que retardam a natureza do contemporâneo. Da manifestação dos “pequenitos” emergem grandes ruturas capazes de solucionar impasses quiméricos e improváveis por desconsideração à potência do semianonimato de quem passa despercebido no universo, seja por opção, pela aleatoriedade dos fenómenos, ou por infortúnio.
Então como saberemos o que há por detrás de um castelo, se há pessoas que são fortalezas, que na sua imobilidade implacável mapeiam o livro através da capa, o veneno através do medo, o segredo através do ímpeto? Aliás: fabricam arte através de uma premissa de demolição subtil para pegar em todos os estilhaços e formar novas utopias, cimentadas à imagem das muralhas que mascaram o mundo de dentro para fora, e de fora para dentro.
Pedro Vaz, nascido em 1995, em Portalegre, começou desde 2014, em Coimbra, a organizar exposições e performances. Completou entre 2013 e 2018 a Licenciatura e Mestrado em Estudos Artísticos pela FLUC. Atualmente é doutorando em Artes e Mediações pela FCSH da Universidade NOVA, e faz curadoria independente pelo Coletivo Gambuzino, fundado por ele e por Emanuela Boccia em 2023.

Redes Sociais: https://www.instagram.com/pedrovaz.o.outro/