Sem nome (o estrado) (tentativo)
2024
Carvão sob tecido e peças em cerâmica

Enquanto espaço doméstico (o estrado), com origem na Espanha islâmica e utilizado pelos cristãos a partir do final do século XII, foi inicialmente um espaço partilhado e, a partir do século XV, tornou-se um espaço “feminino”: lugar de costura, de receção de visitas, de leitura em voz alta e de leitura do rosário, sentado sobre as pernas, à maneira mourisca. A permanência da mulher em casa tornava-a virtuosa, e ela devia mostrar-se ativa, evitando a ociosidade ou a preguiça, tão perigosas como as saídas inconvenientes. Para os moralistas, a ociosidade conduzia à perdição do pensamento, caindo nos perigos do espaço público.

Esta peça apresenta o contraponto da contemplação para um exterior, uma paisagem ou um além, delineada verticalmente como uma espécie de recorte de uma vista panorâmica, apelando à limitação do conhecimento da mulher selvagem. Uma almofada de colocada no limite da paisagem é o ponto de observação, que no estrado era o ponto em que a mulher colocava o seu corpo, não tendo a dignidade de optar por uma cadeira. Esta almofada, assenta na relva/vegetação, e está rodeada por um grupo de lesmas feitas com cerâmica: biblicamente nojentas, representantes da vida sem salvação.

Andrea Paz, de Viña del Mar, estudou artes visuais na Universidade do Chile e é licenciada em comunicação audiovisual com menção em cinema na Universidade de Artes, Ciências e Comunicação. Entre desenho, colagem e técnicas de cerâmica, a artista alterna cenas do que há de mais orgânico e comum na vida e na morte. No entanto, opta por trabalhar com o que nos é quase invisível: os minerais, os grãos, o crescimento dos fungos, a multiplicação e a divisão das células humanas, bem como a memória e a fragilidade.

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