O Parque-jardim
O Portugal dos Pequenitos é um parque-jardim construído no período do ‘Estado Novo’, integrando-se numa doutrina social que fomentava o ruralismo e o nacionalismo como referências ideológicas. É com espírito crítico, nesse contexto político, socioeconómico e artístico, que esta obra, contruída por iniciativa do Professor Bissaya Barreto, deve ser entendida.
Inegáveis e intemporais são as potencialidades didáticas do Portugal dos Pequenitos – autêntico repositório da arte tradicional de construir no espaço português e, simultaneamente, evocação de alguns aspetos relevantes da etnografia portuguesa, continental, insular e ultramarina.
Com efeito, inaugurado em 1940 e concluído cerca de 20 anos depois, em finais de 1950, este parque é representativo do Património Arquitetónico de Portugal, não só no que respeita aos distintos estilos (românico, gótico, renascimento, manuelino, etc.), mas também às diversas tipologias de construção vernacular — designadamente, da primeira metade do séc. XX —, ditadas pela litologia, pelo relevo e clima de cada região, bem como pelas atividades de um país conservador, ainda muito ligado à agricultura, e aos ofícios e indústrias tradicionais.
Para compreender o alcance desta obra singular do Arquiteto Cassiano Branco —quer do ponto de vista da arquitetura, quer no que respeita aos materiais, texturas e cores utilizados — é importante ter em consideração os estudos que o seu autor realizou durante o desenvolvimento do trabalho, bem como o projeto original que foi então construído.
A sua preocupação de rigor levou a que os edifícios fossem erguidos com materiais idênticos aos dos edifícios replicados e a contemplar distintas técnicas artísticas de construção, designadamente, fingidos de cal para os revestimentos, reproduzindo a estereotomia dos originais. A alvenaria de pedra obedece fielmente às técnicas tradicionais, nomeadamente as da região de Coimbra.
A arquitetura e os sistemas construtivos associados do Portugal dos Pequenitos podem constituir o fio condutor de uma narrativa sobre a evolução e as alterações que ocorreram na cultura portuguesa antes e depois da revolução industrial. Complementarmente, é ainda possível convocar as vivências e manifestações culturais de cada região, incluindo as suas manifestações artísticas de raiz popular.